quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Sejamos o dedo que arrepia a pele
o vagal
o trivial
uma poesia vagabundo do meu sarau


Perca teus olhos sobre o meu torso
que eu viajo em teu clítores
veja meu vai em vem e caminhe comigo

venha pra ser
o que tiver
nada que a sociedade impõe
uma pele arrepiada embaixo da camisa

venha pra ser
e seja
e faça
e prenda-me em as tuas pernas

o restante é por minha conta
meu crédito à vista


seja quem tiver de ser
mas não me tire daqui

grito pela ponta da língua
teu suor suja meu corpo
e façamos de dois uma soma que dá um

apenas venha
meu cigarro está acabando na espera
venha!
e grite! acorde os vizinhos com o teu orgasmo
eu não me importo
o amor é só uma flecha errada de um tapado qualquer
vagabundo traiçoeiro
que me acertou enquanto pegava o ônibus
o metrô
a banca de jornal
o cigarro do bolso
me acertou
e acertou-me

filho dum puto qualquer

agora é sua vez de vir
desnuda, espero
e imploro
por mais do teu vício


domingo, 31 de agosto de 2014

Você acorda. Seis horas. Não, reclama, boceja, deita de novo e fecha os olhos. Seis e meia. Porra. Você corre, lava o rosto, se encara no espelho e se pergunta de onde vieram aqueles últimos dez anos que você não viu passar. Barba por fazer. Foda-se. Escova os dentes. Coloca a calça, coloca a camisa, calça os sapatos gastos. Sai descabelado mesmo, abotoa a camisa de qualquer jeito e se revolta quando nota que os botões estão errados. Corre, babaca, você vai perder o ônibus. E quase perde. Ônibus lotado; mulheres barulhentas o fazem odiar a raça. Trânsito. Atraso. Senta no reservado. Grávidas brotam por todos os lados. Fechem as pernas, suas putas, você pensa ao levantar e ceder o lugar. Finalmente chega ao trabalho. Todos aqueles homens medíocres, bêbados gordos ou gordos bêbados, que se fodam também. Exibem as proezas de seus filhos e fazem questão de ressaltar a sua falta de pedidores de dinheiro, a sua falta de "você não me dá atenção, deve ter outra mulher. QUEM É A VADIA?". E você sorri de canto imaginando o modo como mataria cada um naquela sala. Seu sorriso Monalisa vira uma gargalhada insana. Todos mortos, cada um de uma forma distinta, cada forma mais violenta que outra. Otários. Faz seu trabalho, sente insatisfação ao fazê-lo, sente a vida mais dolorosa que a morte. Sai do trabalho. Ônibus lotado. Ódio do mundo, ódio de todos, ódio de si mesmo por não ser feliz. Você a deixou partir por ciúmes, viva com isso. E quer saber?, você pensa. Foda-se, você mesmo se responde. Esquizofrênico. Chega ao prédio, passa no apartamento, pega um cigarro e sua melhor garrafa de whisky, se veste com a sua melhor roupa, faz a barba, penteia o cabelo. Lê Drummond. Corre para o terraço. Bêbado; engraçado. Ri da vida e sente ela rindo de você. A vida é uma puta sádica, mas você não vai dar esse prazer à ela. Vá foder com outro, sua vadia. E você pula. Do décimo sétimo andar você vê as estrelas n... chão!

Sobre ter morrido mais cedo.

“ABRE A PORRA DESSA PORTA AGORA!” E é nessa hora que eu tive dez segundos para decidir entre abrir ou não. Eu sabia que se abrisse uma chuva de socos seriam despejados em mim. Será que a dor física é tão forte quanto a emocional que me triturava? Um... nunca apanhei. Dois, três... deve doer. Quatro, cinco, seis... abro ou não? Sete, oit.. FODA-SE. E abri. Se abri por um surto de coragem ou loucura, não sei, sei que duas mãos me jogaram da escada. Rolei tentando proteger a cabeça. Engraçado como mesmo na merda, os animais preservam pela própria vida. Um Mississipi, dois Mississipis... ME DEIXA LEVANTAR, PORRA! uma mão me agarrou pelos cabelos e me arrastou até outra figura postada no centro da cozinha.
Pede desculpas
Não
Socos, tapas, tapas, puxões de cabelo. É CARNE! É tudo carne. Carne se chocando contra carne. Barulho de carne. Apenas carne. Não dói, não há dor, só carne. QUE DESCOBERTA! É CARNE! É CERNE!
Pede desculpas
E dessa vez, mais coragem: pode me bater, não vou pedir desculpas.
E encaro a figura estática. Meus olhos secos refletindo exatamente a minha alma, minha cabeça erguida por uma mão a sustentá-la pelos cabelos. A mulher processa o que acontece, digere, pensa. Ela não acredita no show particular que presencia. A outra descontrolada, insana, aproveita-se da minha passividade e continua a me esbofetear. Ela não me importa, é a telespectadora que me cativa. O que você vai fazer? Meus olhos a desafiam a demonstrar reação. Talvez vermelhos, talvez inundados de uma coragem poéticas falsa, mas a bosta do mundo é falso, então que saúdam a falsidade, senhoras e senhores!
A figura me surpreende, ela avança, ela grita, ela chora, ela implora, implora para que a louca cesse a sessão de carne. As duas se chocam; eu sou libertada. Apenas observo, passível, entediada. Quando você não é mais algo inteiro, você já não sente a dor, não sente ser estraçalhada quando já se tornou em vários fragmentos. É como um vidro quebrado: um murro não faz diferença. Morrer é uma ideia louca, tão louca que se torna genial. O mundo é uma merda de uma loucura, uma merda de escuridão onde todos gritam e ninguém se ouve, onde todos clamam e se ignoram, onde sangrar é a coisa mais verdade que você pode sentir. A subjetividade e a imaterialidade são fantasias para não estarmos sozinhos. Meu medo se esvai e as vejo se atracando ainda. Por fim, a figura abre a porta e pede para que eu saia por um tempinho. Encontro na beirada um infinito acolhedor, uma altura sucinta que faz meus pés perderem o calor pelo... medo? Não sinto mais medo. O que sinto então? Orgulho? Sim, orgulho. Mesmo na miséria, meus olhos demoníacos não se amedrontaram, não oscilaram, permaneceram firmes, estáveis. E a instabilidade me cercou. Posso pular, entregar-me a morte ou a paralisia. Descansaria um pouco do mundo, em ambos os casos, descansaria como verme.
Posso pular, pode ser legal.
e pul

Sobre escrever mais sobre morrer do que amar...

Sozinha, embalada no escuro
se cansou de remoer as lembranças que a ferem,
cansou de disfarçar suas feridas. 
Cansou de todos, cansou da vida.
Olha pela janela fria o vazio tácito que a cerca,
as lágrimas rolam, rolam, encontram conforto em seu decote e depois secam.
Secam como se nada tivesse acontecido, são sugadas pela pele fria
que absorve como indivíduo bem-vindo as dores que tentaram fugir.
Ela senta, ela observa, ela pensa, ela sente uma dor que é só dela.
Não compartilha, não quer.
Sofre quem nem disseram que era de gente,
sofre como ser humano, sofre como mulher.
Ela é o problema.
Se corta todas as noites na esperança que não acorde,
dorme de janelas abertas na esperança que a matem,
anda por becos escuros na madrugada,
fuma ao respirar e respira pra morrer.
Cada suspiro a aproxima da morte e ela só pensa "menos um".
Sua boca suicidou-se nos nós da garganta,
seu corpo declinou a vida,
ela se entrega ao calor de sua cama; quente e esguia.
Se for vida que a consome,
a morte é a saída.
Dor - sádica! - que arde em seus pulmões,
viciada na droga da existência,
se vê em recaída.
Existe, não vive.
Esse túnel não tem saída.

16º

No décimo sexto andar seus problemas são resolvidos.
Entrem, sentem-se! Querem assistir alguma outra coisa? Eu mal estou olhando pra tevê.
Sorri falsa.
Quer água?
Sorri. Vadia, mentirosa, doente.
A doutora já vai atendê-los.
Ela está atrasada, você sabe disso, e não conta, você sabe que eles são tão problemáticos quanto você, mas ainda se sente superior. Ora, não estão ali pelos mesmos motivos. Você está fugindo, eles encarando. Quem a vê não imagina a sua loucura. Eu que a conheço, vagabunda da vida, a presenteio com uma camisa de força. Loucura. De segunda à sexta lá está você sentada em seu uniforme, sorrindo com batom vermelho. Quem você acha que engana? Se ocupa pra não sentir o vazio, acha que assim irá vencê-lo, porém ele está em seu encalço, ele a está corroendo como uma bactéria. Só que um dia você cansa, acaba a paciência junto com a esperança.
Foda-se.
Quantos palavrões para uma garotinha! Garotinha? Haha' Nunca foi, nunca a protegeram com esse falso amor, nunca a levantaram das quedas. Você não liga mais.
Doutora, já volto.
Mentir é feio. Você vai para a sala vazia, olha a vista. Décimo sexto andar. Sem proteção. Rápido e fácil.
Para uma pessoa que não sofre mais com estes olhos.

Foi entre os livros que me perdi, a solidão gritante apalpava meu âmago e o surrava, surrava como um vicking raivoso a esbravejar a clava. Os livros observaram a minha desolação. Por um momento pude jurar que vi as letras dançarem um trovadorismo antigo ao meu redor, envolvendo-me em uma esquizofrenia cômica. Espirrei. E abracei. Abracei Shakespeare, não sei, talvez John Green e sua pequena grande Hazel, ou não, eu não tenho certeza. Logo as lágrimas me cegaram e caí, tropecei em meus pés e fui de encontro ao chão. Por algum motivo, sorri. Sorri como criança, sorri como a namorada saudosa, sorri como uma boba, sorri para J.K. Rowling, sorri para Stephen Chbosky, sorri para as páginas amassadas, para a poeira, para o teto, para as minhas lágrimas que continuavam a cair e até para a minha tristeza. E de repente, uma gargalhada infantil escapou sem permissão por entre meus lábios. Ora, teimosa, como a tristeza ousou lhe deixar sair? Mas lembrei novamente dele, do seu olhar paterno, do seu sorriso grande que me devorava, das suas músicas calmas, do seu jeito quieto e lembrei do porquê das lágrimas. E elas voltaram a arder.