domingo, 31 de agosto de 2014

Você acorda. Seis horas. Não, reclama, boceja, deita de novo e fecha os olhos. Seis e meia. Porra. Você corre, lava o rosto, se encara no espelho e se pergunta de onde vieram aqueles últimos dez anos que você não viu passar. Barba por fazer. Foda-se. Escova os dentes. Coloca a calça, coloca a camisa, calça os sapatos gastos. Sai descabelado mesmo, abotoa a camisa de qualquer jeito e se revolta quando nota que os botões estão errados. Corre, babaca, você vai perder o ônibus. E quase perde. Ônibus lotado; mulheres barulhentas o fazem odiar a raça. Trânsito. Atraso. Senta no reservado. Grávidas brotam por todos os lados. Fechem as pernas, suas putas, você pensa ao levantar e ceder o lugar. Finalmente chega ao trabalho. Todos aqueles homens medíocres, bêbados gordos ou gordos bêbados, que se fodam também. Exibem as proezas de seus filhos e fazem questão de ressaltar a sua falta de pedidores de dinheiro, a sua falta de "você não me dá atenção, deve ter outra mulher. QUEM É A VADIA?". E você sorri de canto imaginando o modo como mataria cada um naquela sala. Seu sorriso Monalisa vira uma gargalhada insana. Todos mortos, cada um de uma forma distinta, cada forma mais violenta que outra. Otários. Faz seu trabalho, sente insatisfação ao fazê-lo, sente a vida mais dolorosa que a morte. Sai do trabalho. Ônibus lotado. Ódio do mundo, ódio de todos, ódio de si mesmo por não ser feliz. Você a deixou partir por ciúmes, viva com isso. E quer saber?, você pensa. Foda-se, você mesmo se responde. Esquizofrênico. Chega ao prédio, passa no apartamento, pega um cigarro e sua melhor garrafa de whisky, se veste com a sua melhor roupa, faz a barba, penteia o cabelo. Lê Drummond. Corre para o terraço. Bêbado; engraçado. Ri da vida e sente ela rindo de você. A vida é uma puta sádica, mas você não vai dar esse prazer à ela. Vá foder com outro, sua vadia. E você pula. Do décimo sétimo andar você vê as estrelas n... chão!

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